“Não nasci no corpo errado, nasci na sociedade errada”
Aquele que devia ser o principal momento do activismo nacional voltou a ter uma reduzida cobertura mediática. A Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa foi acompanhada por um pequeno número de jornalistas e fotógrafos.
A questão dos direitos da comunidade transexual e intersexo, grupo que encabeçou a Marcha, continuou à margem dos media generalistas e foi até alvo de preconceitos. Logo a abrir a reportagem da SIC a jornalista dirigiu-se a Alice, activista dos colectivos Lóbula e Panteras Rosa, e perguntou: “Posso saber porque veio assim vestido?” Alice teve de corrigir para que fosse tratada no feminino.
Mais de uma dezena de pessoas transgénero e intersexo lideraram marcha. Entre elas estava Sasha (foto principal), um francês que vive há menos de um ano em Lisboa, e que desfilou em tronco nu e com a mensagem “Não binário”. “A minha mensagem é bem explícita. Escrevi no corpo ‘Não binário’. Não nasci no corpo errado, nasci na sociedade errada. As pessoas têm de perceber que o meu corpo não tem nada a ver com o meu género”, disse Sasha ao dezanove. “Sou trans, mas muitas vezes a identidade trans está ligada a cirurgias e a hormonas. A minha identidade é válida, assim como eu sou”, justificou para desmistificar a ideia de que género e corpo têm de corresponder.
No início da manifestação podiam ler-se cartazes com mensagens como “1700 pessoas trans assassinadas no mundo”, “Anti-transfóbico”, “Aqui está a resistência trans”, “O binarismo mata” ou “Eu sou transensual”, num grupo onde pontificavam vários activistas que tinham semanas antes participado na audiência promovida pelo Bloco de Esquerda, na Assembleia da República.
A questão trans constava também do manifesto da Marcha: “Não aceitamos o silenciamento da autonomia das pessoas trans. Temos que garantir a despatologização das identidades trans para garantirmos o direito de todas as pessoas a viverem livremente a sua identidade. Temos de incluir a identidade e a expressão de género no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa”, destacava o texto que depois foi lido no Terreiro do Paço.