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Sobre os homossexuais e o sacerdócio

 

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Roma já tinha decretado, agora a Conferencial Episcopal Portuguesa vem confirmar: os homossexuais não têm lugar nos seminários.

 

O documento Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis é classificado como “uma instrução relativa aos critérios do discernimento vocacional, referente a pessoas com tendências homossexuais, tendo em vista a sua admissão ao seminário e às ordens sacras”. O texto de forma clara afirma que a Igreja não pode ordenar como sacerdotes “aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas e apoiam a chamada cultura gay. Estas pessoas encontram-se, de facto, numa situação que constitui um grave obstáculo a um correcto relacionamento com homens e mulheres. De modo algum se hão-de descuidar as consequências negativas que podem derivar da ordenação de pessoas com tendências profundamente radicadas”.

O documento deixa, no entanto, a porta ligeiramente aberta se se tratar de “tendências homossexuais que sejam apenas a expressão de um problema transitório como, por exemplo, o de uma adolescência ainda não completada”. Devem, no entanto, “estarem claramente superadas, pelo menos três anos antes da ordenação diaconal”, ou seja a etapa na qual o futuro padre se compromete ao celibato.

Então, afinal, que há de novo neste documento? Tudo e nada…

Desde há muito a Igreja Católica de Roma insistia da destrinça entre os “actos homossexuais”, definidos como pecados graves, e as “tendências” homossexuais, que não eram em si mesmo pecaminosas. Ou seja, era possível, para um homem com orientação homossexual, ser ordenado Padre, dado que se comprometia à castidade. No fundo, a sua situação não deferia em nada de um padre heterossexual que também ele devia permanecer casto. Ficou confuso? O Vaticano veio clarificar com este documento que um seminarista com “tendências” homossexuais, mesmo que sinta que quer viver o celibato que o sacerdócio implica, não poderá ser ordenado. Pronto, está resolvido.

A Congregação para a Educação Católica, num comentário a este documento, foi ainda mais longe afirmando que “a Igreja não pode negligenciar as consequências negativas que podem decorrer da ordenação de pessoas com tendências homossexuais profundamente enraizadas … estas são objectivamente desordenadas”. O texto afirma também que um são um “handicap” para a “maturidade” afectiva e para a paternidade espiritual necessárias à vocação presbiteral”. Ou seja os homossexuais são um bando de imaturos afectivamente falando e incapazes de serem bons pastores do rebanho de Cristo…

Isto leva-nos a uma outra questão. Esta medida oficialmente não tem consequências para os padres homossexuais já ordenados. Contudo, pela rejeição categórica de integrar no clero aqueles que tem uma orientação homossexual, emerge uma pergunta incontornável que o Senhor Patriarca de Lisboa não esclareceu: É possível para o que já são sacerdotes ser-se um “bom” padre se se tem essas ditas “tendências homossexuais profundamente enraizadas”, mesmo sendo-se casto? Esta instrução vinda de Roma e agora “validada” pela Conferência Episcopal Portuguesa não vem também afirmar que todos os padres homossexuais já ordenados não são capaz de viver de forma equilibrada e sã o seu ministério?

De facto, se confuso estava confuso fiquei.

 

Como cristão sinto-me profundamente indignado e ao mesmo tempo solidário com todos os padres homossexuais que na vivência do seu ministério provam que é possível ser-se “bom” padre e homossexual.

 

As recentes afirmações do Cardeal Patriarca são, na minha opinião, ofensivas no que respeita à dignidade humana e à dignidade de todos os filhos e filhas de Deus. Não posso entender afirmações como "o Sacerdócio é o sacramento de Cristo Pastor. Em Cristo não há nada de homossexual como relatam os Evangelhos" ou é melhor “não se porem a jeito” para justificar a posição da Igreja Católica Romana relativamente a este tema tão caro a tantos e tantas que procuram viver a sua fé com seriedade, independentemente da sua orientação sexual. Como cristão sinto-me profundamente indignado e ao mesmo tempo solidário com todos os padres homossexuais que na vivência do seu ministério provam que é possível ser-se “bom” padre e homossexual.

 

Fernando Santos, padre anglicano

 

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