“As estrelas ouvem” os desejos queer de Lince Rebelo, em exposição no Porto
A partir de 26 de Janeiro, a Livraria Aberta expõe obras do ilustrador portuense Lince Rebelo. O trabalho de Lince celebra «o amor, o místico e o quotidiano das histórias e narrativas LGBTQ+», nas suas palavras. Neste novo projecto, percorremos o firmamento com os sonhos que apenas confessamos aos astros.
Num trabalho anterior, “Dante”, mergulhámos com Lince no abismo para refundar o Inferno. Lá estavam os proscritos e inadaptados da sociedade, mas ele quis que aquele não fosse mais um lugar danado. Fez com que os marginais fossem venerados e fosse consagrada a carne e o prazer. Baniu-se a culpa e praticou-se livremente o pecado naquele lago quentinho. “Dante” mostrou-nos um paraíso adquirido por pessoas queer.
Desta vez, olhamos para cima. “As estrelas ouvem” é o mote para uma exposição onde o espaço celeste é habitado pelos nossos desejos e súplicas. Lince conta que estas obras foram infundidas por uma energia luminosa. O apelo às estrelas aconteceu por alquimia interior. Quando sentia uma grande paixão por algum rapaz, ou quando queria bem a uma amiga querida, conversava com os astros e contava-lhes as suas promessas. No fundo, como a humanidade vem fazendo desde sempre.
Imagens cedidas pelo autor
Lince considera a astrologia uma parte importante do universo referencial queer. Pela sinopse da exposição, somos transportados para uma aldeia celestial povoada pelo zodíaco.
«Apercebi-me que te amava quando o céu fugiu para Escorpião. Em Sagitário, pedi à Lua para que quando Gémeos brilhasse trouxesse consigo um futuro no qual tu, eu e nós fôssemos felizes. Não consigo que Capricórnio me oiça, ele desconfia de mim. E Aquário, insubmisso, carrega no meu corpo desejos, tatuagens, medos, intemperanças e memórias do teu sorriso.
Espero que as estrelas oiçam quando sussurro carinhos que abraçam os nossos corações a Antínoo e a Aquila.»
Talvez seja essa a linguagem que as estrelas usam para nos responder. Pelos signos, tomam formas perceptíveis aos nossos olhos e mentes terrestres. Como quando nas lendas gregas os deuses se transformavam em animais para assim comunicarem com os mortais sem que estes se assustassem com a sua natureza divina. Mas os deuses tinham sempre a pretensão de manipular ou abduzir os corpos para qualquer fim terrível e egoísta. As estrelas não. As estrelas lá estão, no alto, para suavizar a noite e cobrir de brilho os nossos olhos.
Inaugura dia 26 de Janeiro, às 18h, na Livraria Aberta (Rua do Paraíso, 297-299, Porto).
Pedro Leitão