Novo livro de poemas homoeróticos medievais
Está a chegar ao mercado o livro que reúne dezenas de poemas medievais homoeróticos dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses escritos entre o século XI a XIII.
O trabalho de pesquisa e tradução é de Victor Correia, licenciado e pós-graduado em Filosofia (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), e possuidor de um vasto currículo.
Com lançamento oficial marcado para o próximo dia 15 de Janeiro, às 18:30h, na livraria Bertrand, centro comercial Picoas Plaza, em Lisboa. O livro está à venda a partir de 7 de Janeiro nas principais livrarias de Portugal.
“Não é um livro apenas respeitante ao homoerotismo, mas ao erotismo em geral, mas a quantidade de poemas medievais que falam sobre homossexualidade é muito significativa, os quais se publicam pela primeira vez em Português, pois estavam publicados apenas em galaico português” explica o escritor ao dezanove.pt
Em alguns destes poemas expressam-se “sentimentos amorosos ou sexuais entre homens, outros fazem-no de forma disfarçada, usando uma linguagem metafórica, e outros são poemas satíricos, mas que são também importantes, pois revelam que a homossexualidade existia também na Idade Média, e que portanto, ao contrário do que alguns afirmam, não é uma ‘modernice’” continua o autor.
Victor Correia compilou e traduziu neste livro poemas de diversos autores tão medievais como D. Dinis, Estêvão da Guarda ou Pero Garcia Burgalês. Esta antologia é assim pioneira pois, pela primeira vez, poemas dispersos são organizados e traduzidos para português contemporâneo, acessível a todos.
Em jeito de curiosidade o autor partilha ainda com os leitores do dezanove.pt um poema completo e o respetivo manuscrito:
RODRIGO EANES DE VASCONCELOS
Portugal (localidade desconhecida), c. 1230-1279
ESTES TORMENTOS QUE EU DE SOFER HEI (1)
Estes tormentos que eu de sofrer hei,
meu amigo, muitos e graves são;
e vós muito graves, com emoção,
tormentos sofreis; por isso não sei
de eu por vassalo e de vós por senhor,
de nós qual tem mais tormentos de amor!
Tormentos sofremos, tal nos sucede :
eu por vós, meu amigo, e vós por mim !
E sabe Deus de nós que isto é assim ;
e sobre estes tormentos não se mede,
de eu por vassalo e de vós por senhor,
de nós qual tem mais tormentos de amor !
Já estão habituados a sofrer,
tormentos meus olhos e o coração;
estes tormentos senhor, em mim estão ;
mas com tudo isto não posso entender,
de eu por vassalo e de vós por senhor,
de nós qual tem mais tormentos de amor !
Manuscrito do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, N 368
(1) Que tenho sofrido e que hei de sofrer.