Nuno Pereira: “As pessoas puderam conhecer-me um pouco mais e passaram a respeitar-me”
Nuno Pereira é o único português a trabalhar como modelo andrógino. Prestes a fazer seis anos de carreira o dezanove foi falar com ele para conhecer um pouco mais da sua vida e do seu trabalho.
dezanove: Como foste descoberto pelo mundo da moda?
Nuno Pereira: O meu percurso começou faz no próximo ano, em Janeiro, seis anos. Enviei algumas candidaturas, recebi vários “nãos”, mas no meio de tantas uma disse que me queria ver. Depois de um casting e ter ficado agenciado demorou um pouco. Passado quase um ano comecei a fazer qualquer coisa e, quando dei por mim, mais ou menos um ano e meio ou dois depois de ter começado fiz três/quatro capas de revistas de moda e desde então não parei mais.
O que começaste por fazer e o que estás a fazer neste momento?
Comecei como modelo, depois comecei a trabalhar também como scouter (caça talentos) e hoje sou booker da Onway Models. Ainda não deixei a minha carreira como modelo, mas sou mais exigente agora, não faço todos os trabalhos. Ainda é algo que amo, mas que um dia vai terminar. Quando comecei a descobrir novas caras, descobri também que algo novo que me dava prazer e então quis evoluir e chegar a booker. Faço também trabalhos como stylist, mas só no próximo ano irei formar-me como tal.
O que te dizem sobre o que te distingue dos outros modelos?
Há tantos rapazes que trabalham como rapazes e tantas raparigas que trabalham como raparigas, porém, há poucos que conseguem e podem trabalhar como mulher sendo um homem, por isso, a maioria dos meus trabalhos sempre foram como woman. Era o que tornava diferente o trabalho, porque se quisessem um homem não seria eu certamente.
Já trabalhaste com outros modelos andróginos ou top models conhecidas? O que aprendeste?
Não, infelizmente. Há vários tipos de modelos andróginos, sejam eles homens ou mulheres. Como temos uma percentagem muito grande de hormonas do sexo oposto, muitos de nós opta por mudar de sexo, o que não é de todo o meu caso nem nunca foi uma ideia. Já passou assim bem ligeiramente, mas foi logo embora. Aprendi bastante com profissionais que trabalham há anos na área e são uma referência.
Este é um mundo que te fascina?
É o meu mundo. É o mundo pela qual batalhei muito, não me vejo a fazer outra coisa.
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Como anda a moda portuguesa?
A crescer, mas há pontos que não anda para frente nem para trás. Mas, a meu ver, isto será em todos os países, mas sendo Portugal um país pequeno sentimos mais na pele.
O teu aspecto exótico é agora valorizado. Sempre foi assim? Como foi na escola e com a família?
Não. Eu sofri muito na pele pela imagem que tenho. No Algarve, um meio tão pequeno, não se pode esperar muito mais e mesmo em Lisboa, já passei por muitos pontos que me fizeram sofrer, quer físico quer psicologicamente. A verdade é que a minha vinda para Lisboa mudou muita coisa: Desde a forma como sou tratado quer na capital, como no Algarve onde nasci e vou quando quero e posso. A verdade é que ter saído em várias revistas, jornais, ter ido à televisão mudou a minha vida. Apesar de não ser de todo mediático, mas mudou, a televisão tem um poder enorme e as pessoas puderem conhecer-me um pouco mais e passaram a respeitar-me.
Entrevista de Paulo Monteiro
Fotos: www.onwaymodels.pt