Dia Internacional da Mulher: a relação entre o Feminismo e o L de LGBT
Assinala-se mundialmente a 8 de Março, desde 1975, o Dia Internacional da Mulher, sob insígnia das Nações Unidas.
O dezanove.pt falou com Salomé Coelho, activista na UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, para perceber o enfoque feminista e lésbico deste dia:
"As lésbicas não são mulheres", disse Monique Wittig, feminista lésbica, nos anos 80. Com esta afirmação, Wittig questionava a categoria que estava na base das reivindicações feministas, a categoria "mulher", dizendo que esta apenas tem e ganha sentido dentro da norma heterosexual. Com isto, Wittig denunciava que quando se falava de mulheres e dos seus direitos, se assumia que essas eram "heterosexuais"; denunciava também que a própria definição do que é ser uma “verdadeira mulher” se faz num sistema que apenas concebe a “heterosexualidade” como sexualidade válida. Se mulher é aquela que se une a um homem, logo, as lésbicas não poderiam ser mulheres.
As ligações entre feminismos e direitos LGBT nem sempre foram pacíficas, havendo tensões históricas documentadas, mas também uma longa tradição de alianças políticas. As críticas das mulheres lésbicas permitiram pensar de forma mais complexa o sujeito politico dos feminismos e a luta feminista abriu, indubitavelmente, espaço para a luta pela liberdade sexual e direitos LGBT. Hoje, pensar os direitos sexuais sem pensar a dimensão de género, ou o contrário, é amputar a leitura do mundo e reduzir a capacidade de transformação. Na raiz das desigualdades de género e com base na orientação sexual estão um mesmo sistema de género que impõe normas restritas do que é ser homem e do que é ser mulher – e mais nenhum género pode existir para além desse binarismo! -,sabendo que mulher não pode nunca ser aquela que ama ou deseja outra mulher.
No Dia Internacional das Mulheres – dia em que se celebra a luta histórica das mulheres por melhores condições de vida e em que se recorda os caminhos que há ainda a percorrer -, celebremos também a visão de que as opressões se entrecruzam e que não há reais conquistas feministas se elas não põem em causa a heteronorma, nem direitos LGBT se o sistema de género sai inabalado. Por alguma razão, sexo (género) e sexo (sexualidade) se confundem na escrita (dos textos e das vidas).
Salomé Coelho
UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta
28 anos