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Masculinidade tóxica

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Fui, (fomos todos, quase, até há pouco tempo), criados numa cultura do elogio do macho Alfa.

Um homem superior seria o homem sempre pronto para a porrada, o que nunca se deixaria rebaixar diante de uma mulher (a não ser, claro, que fosse tão boa na cama que a pessoa se pudesse ir gabar disso, explicando uma posição subalterna na relação). O gajo a sério não andaria a menos de 140 numa autoestrada, mataria se lhe chamassem filho-da-puta (não porque não merecesse ser insultado, mas porque a santidade da mãe - que o tinha concebido sem sexo - estaria a ser posta em causa) e por aí fora.

Ninguém se atrevia a sonhar ter uma relação amorosa, às claras, com outro rapaz, enquanto se crescia, porque isso significava não só ser agredido pela família (vejam os vídeos brasileiros de mães e pais brasileiros a baterem nos filhos quando estes decidem fazer um vídeo a pregar a "partida de serem gays", era o mesmo que cá tínhamos) como ser achincalhado pela comunidade e preterido nos empregos. O grande problema dessa facada na instituição, era a vergonha dos vizinhos causada pelo facto de o filho (no caso das filhas, é mais ou menos o mesmo, mas com nuances) se torna assim "uma mulher". Um "invertido" era isso: um homem que desistia dos seus privilégios de macho para abraçar a vergonhosa e menosprezada condição feminina. Em miúdo, quando esta evidência social se me tornou clara, fazia-me confusão a homofobia das mulheres, o desprezo que elas tinham por si próprias ao ponto de atacarem um homem que (na imaginação da época) quereria ser "como elas".

A guerra de Putin, os neonazis e as rixas de gangues de polícias e seguranças à porta de discotecas (não falo apenas deste caso, mas de muitos outros) derivam dessa mesma masculinidade tóxica.

A guerra de Putin, os neonazis e as rixas de gangues de polícias e seguranças à porta de discotecas (não falo apenas deste caso, mas de muitos outros) derivam dessa mesma masculinidade tóxica.

A mesma que algumas mulheres (poderia ser mais preciso, mas não o vou fazer) atribuem a TODOS os homens. Uma pila=a masculinidade destrutiva. Felizmente que estão enganadas.

Putin apareceu sempre em cima de cavalos, rodeado de homens ou cães, tudo símbolos da sua ideia de sociedade patriarcal assente em valores conservadores que era preciso resgatar.

Os mesmos que os parvalhões do Chega acreditam ser necessário trazer de volta. Ou do burro violento, neonazi, tuga, que nos quer ir envergonhar para a Ucrânia (se lá chegar) como "português-combatente".

A China lançou, o ano passado, leis no mesmo sentido: proibir os jovens rapazes chineses de aparecerem em poses ou danças que façam lembrar as mulheres. O Tiktok e as variantes locais chinesas fizeram soar o alarme no comité central de homens velhos.

Para todos estes, é necessário assentar a sociedade no poder do homem. Do homem tóxico. No seu gosto por andar aos tiros e ocupar outras terras.

O homem a sério, vá, na sua (e ainda em muitas, cá por casa) ideia.

Enquanto não se educar a partir do princípio de que não há assim tanta diferença entre os sexos, e as que existem assentam, frequentemente, em estereótipos culturais que não foram questionados, teremos guerra,

Porque um grupo de homens juntos, com acesso a armas, é estúpido. Profundamente estúpido e perigoso.

Como se está, de resto, a comprovar.

 

Possidónio Cachapa

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