"Os Moedeiros Falsos" de André Gide, Prémio Nobel de Literatura em 1947
Novidade editorial reimpressa pela Bertrand Editora.
Sinopse: Um grupo de jovens com ambições literárias aproxima-se do conde de Passavant, homem de letras vulgar e de moral duvidosa que deseja manter sob a sua influência talentos promissores como Bernard e Olivier.
Estas e outras personagens são referidas no diário íntimo de Édouard, velho conhecido de Passavant e tio de Olivier, por quem este nutre uma admiração que se converte em ligação amorosa. Édouard procura reunir material para um romance, Os Moedeiros Falsos, título alegórico e moral que acaba por tornar-se estranhamente adequado quando o escritor descobre o envolvimento dos seus amigos com um bando de adolescentes encarregados de distribuir dinheiro falso.
Exprimindo uma visão sem preconceitos da homossexualidade e denunciando a hipocrisia e a decadência da alta sociedade francesa do princípio do século XX, Os Moedeiros Falsos, uma das obras capitais de André Gide e a única a que deu o nome de romance, antecipa algumas das tendências fundamentais da narrativa contemporânea.
Sobre André Gide (1869-1951) é um dos escritores franceses mais importantes do século XX. Nascido no seio de uma família francesa protestante, Gide cresceu e foi educado sobretudo na Normandia, num grande isolamento social. Desde cedo começou a escrever, tendo publicado o seu primeiro romance em 1891.
Numa viagem ao Norte de África, foi surpreendido por um mundo de liberdade que, dada a sua educação, nunca antes imaginara, acabando por admitir a sua atracção pelos corpos saudáveis de rapazes jovens.
Gide travou conhecimento com Oscar Wilde em Paris, em 1895. O autor de O Retrato de Dorian Gray julgou que lhe tinha revelado a sua homossexualidade, mas a avaliar pelos diários do escritor francês sabemos que nessa altura já tinha plena consciência da sua condição. O drama de Gide era, pois, a conciliação entre a sua rigorosa educação protestante com uma liberdade que sentia necessária para assumir a sua sexualidade.
Apesar de ser casado, Gide envolveu-se com um jovem e ambos fugiram para Inglaterra, o que lhe trouxe críticas tanto da França católica, como da França protestante. E se é certo que a sua obra é admirada e tem uma clara influência na formação de jovens escritores como Camus ou Sartre, sempre que Gide abordou a sua orientação sexual, a crítica com afinidades católicas e protestantes não lhe deu tréguas.
Como tradutor, introduziu as obras de Joseph Conrad em França. A sua actividade de crítico e escritor foi contínua, mas acrescentou-lhe uma vertente de defesa dos Direitos Humanos da qual é pioneiro. Por um breve período foi simpatizante dos ideais comunistas, mas, convidado a visitar e a discursar na União Soviética, regressou desiludido com a censura dos seus discursos e o estado geral da cultura no país.
Em 1939 tornou-se o primeiro escritor vivo a ser incluído na famosa colecção Bibliothèque de La Pléiade. Em 1947, recebeu o Nobel de Literatura.
Morreu em 1951. Um ano depois, a Igreja Católica Romana colocou as suas obras no Index Prohibitorum.
A ficção de Gide e os seus escritos autobiográficos estão traduzidos em mais de 40 línguas e o autor é hoje reconhecido não apenas pelo seu génio literário, mas também como uma das primeiras personalidades a assumirem a sua homossexualidade, discutindo abertamente a sua posição com a moralidade vigente.