"Uma família em Bruxelas" de Chantal Akerman
Traduzido por Cristina Fernandes, “Uma Família em Bruxelas” é um curto e comovente retrato autobiográfico da degradação física e mental do seu pai sobe o ponto de vista da sua mãe, a figura central da história.
Se pudessemos definir uma arte para Chantal Akerman certamente não a remeteríamos para a escrita mas sim para o cinema, caminho indissociável da sua criação artística. Actriz, roteirista, produtora e professora de cinema, às vezes escritora, Akerman foi e continua a ser um rosto influente para o cinema feminista e Avant-Garde europeu.
Recentemente, em 2022, o seu filme Jeanne Dielman, 23, Quai du commerce, 1080 Bruxelles (França/Bélgica, 1976), é elevado a “novo” melhor filme do mundo pela prestigiada revista britânica Sight & Sound . Depois de filmes como “Vertigo”, de Alfred Hitchcock (EUA, 1959) e de “Mundo a Seus Pés” (“Citizen Kane”), de Orson Welles (EUA, 1941), a cineasta belga consegue, pela primeira vez na história do cinema, a nomeação de melhor filme de todos os tempos.
Mas a sua obra não fica por aqui, somam-se outros filmes como “Saute ma ville” (1968), “News from Home” (1976), “Hôtel des Acacias” (1982) ou “No home movie” (2015), ano em que põe fim à própria vida.
Escrito em 1988, “Uma Família em Bruxelas” surge recentemente nas estantes portuguesas pela editora BCF Editores. Um livro de bolso, com apenas 68 páginas, em que numa narrativa corrida, articulada, sem grande esforço de pontuação, sem grandes quebras, alternando numa escrita que é tanto na terceira pessoa como na primeira pessoa, Akerman conta-nos sobe o ponto de vista da sua mãe aquela que seria a história de uma família de imigrantes polacos judeus em Bruxelas.
Um livro comovente que nos fala muito mais do sentimento de perda e de luto. Este é um pequeno livro que nos fala e representa o quotidiano feminino, a clausura da vida no privado, as confidências entre mãe e filhas, as expectativas sociais que lhes estão inerentes, as possíveis transgressões aos papeis de género, a condição de classe, de raça e religião que demarcam o papel desse feminino que é trazido na obra de Akerman e que , neste livro, não poderia deixar de tratar.
ISBN: 978-989-53398-4-6
Editor: BCF EDITORES
Páginas: 68
Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu. É administrador do site Leituras Queer.