Vale a pena ver “Julieta” de Pedro Almodóvar?
O filme que teve previsto como título “Silêncio” e como protagonista Meryl Streep não teve nem uma coisa nem outra. “Julieta” tem data de estreia em Portugal a 22 de Setembro. O dezanove.pt já viu o filme e conta-te alguns pormenores. Se não gostas de spoilers não continues a ler esta crítica.
Tentamos responder então à pergunta que colocámos:
Se depois da hilariante comédia “Os Amantes Passageiros” estás à espera de ver um filme de temática LGBT a resposta é não, ou, pelo menos, terás de esperar até ao final do filme para perceber a densidade deste não. Se és um fã da filmografia de Almodóvar e das suas “chicas” a resposta é sim.
Estreado em Espanha em Abril deste ano, o filme ficou logo afectado pelo escândalo dos Panama Papers. O nome do realizador e do irmão apareceram na lista de pessoas que teriam negócios ilícitos naquele país. Os irmãos negaram quaisquer acções fraudulentas. A promoção do filme foi cancelada e o realizador não marcou presença nas primeiras conferências de imprensa. Polémicas à parte, “Julieta” tem feito o percurso dos festivais de cinema. Em Maio passado, em Cannes, esteve nomeado para a Palma de Ouro e é falado como um dos filmes candidato por Espanha aos Óscares. Vamos esperar.
A trama começa com mais uma reviravolta na desconsolada vida de Julieta. Interpretada na idade adulta por Emma Suárez, Julieta está prestes a mudar-se para Portugal com o namorado para tentar recomeçar uma nova vida, depois de estar mais de uma década amargurada. Um encontro casual na rua com Beatriz, uma amiga da sua filha Antia, inverte o rumo do filme e leva(-nos) ao mergulho num mar de histórias. O regresso ao passado da Julieta jovem é desempenhado por Adriana Ugarte. A personagem central do filme - que inicialmente Almodóvar queria que fosse interpretada por Meryl Streep - é interpretada assim em duas fases e por duas novas "chicas".
Numa viagem Julieta, jovem, independente e professora de filosofia, conhece Xoan um pescador galego (Daniel Grao). Aquele que é o início de uma história de amor é também o começo do contacto com a tragédia. Na vila galega de Xoan - onde a imensidão do mar é tão bela quanto fatal - vivem duas outras "chicas" Almodóvar: Marian, a empregada bisbilhoteira (Rossy de Palma) e Ava, escultora e amiga do pescador (Inma Cuesta).
Do amor de Julieta e Xoan nasce Antia, que durante um campo de férias se torna amiga inseparável de Beatriz (Michele Jenner).
A introdução do elemento morte na história leva ao desmoronar de algumas personagens e ao desaparecimento de outras. A dicotomia entre uma paixão avassaladora e uma dor incomensurável marca as três décadas que o filme retrata e que Julieta, em idade madura, quer forçosamente despejar num livro. É esta a história que Almodóvar transforma em filme, a partir de três contos do livro "Fugitiva" da Nobel da Literatura canadiana Alice Munro.
Tal como vários filmes de Almodovar, "Julieta" leva-nos a reflectir. Perguntamo-nos o que será feito de pessoas que, em determinada altura, foram tão importantes como paixões e desapareceram devido ou não a tragédias. Ao mesmo tempo que no ecrã vemos Julieta, e nos questionamos, conseguimos ler alguns sinais sobretudo de dor, que o realizador nos mostra neste drama. Um filme de Almodóvar para ver a partir de meados de Setembro nas salas de cinema portuguesas.
Assiste ao trailer do 20º. filme de Pedro Almodóvar ao som de “Si no te vas”, de Chavela Vargas:
3 estrelas em 5
Paulo Monteiro