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Feminismo: Carta Aberta a Rita Matias, deputada do CHEGA!

Feminismo Diogo Ferreira

Olá Rita. Temos a mesma idade, então sinto-me à vontade para te tratar por “tu”.

Escrevo-te para tentar perceber o porquê de te dizeres “antifeminista” porque, após ver a tua recente entrevista à CNN, me pareceu que tiveste dificuldade em definir o Feminismo (ou, pelo menos, o que entendes por Feminismo).

Como é um dos temas que estudo e investigo, posso tentar ajudar-te a perceber um bocadinho melhor:

Rita,

— Deves à luta Feminista o facto de poderes estar na televisão a expressar opiniões;

— Deves à luta Feminista o facto de seres mulher e poderes trabalhar fora de casa;

— Deves à luta Feminista o facto de poderes votar;

— Deves à luta Feminista o facto de poderes usar calças!;

— Deves à luta Feminista o facto de poderes trabalhar na política;

— Deves à luta Feminista o facto de poderes frequentar o Ensino Superior;

Não sei se é o caso, mas se tiveres uma vida sexual activa e usares métodos contraceptivos, também isto deves à luta Feminista;

Se um dia decidires casar (não sei se já o és) e, mais tarde, desejares divorciar-te, deves essa possibilidade à luta Feminista;

Se um dia (esperemos que não, mas os dados mostram-nos uma grande possibilidade, infelizmente), fores vítima de violência doméstica, deves grande parte da proteção e apoio que irás receber à luta Feminista.

Na entrevista que deste à CNN, afirmaste que “(…) as mulheres acabam por serem esquecidas neste combate em que tentam colocar o homem contra a mulher.”
O Feminismo não é um movimento “anti-homens”, como pensas. O Feminismo é uma movimento inclusivo e, aliás, requer a inclusão e envolvimento dos homens e rapazes para evoluir, visto que são os homens os maiores perpetradores de violências contra as mulheres (e “violências” é a palavra chave de qualquer movimento social). O Feminismo também serve para educar homens no sentido da igualdade e equidade (porque, lá está, a responsabilidade não pode recair totalmente sobre a vítima). Não se trata de definir o Sexo mais forte, trata-se de que ambos os sexos tenham acesso aos mesmos direitos e deveres e, acima de tudo, trata-se de reconhecer o sexismo enraizado nas nossas sociedades.

Chamaste (ainda na CNN) a atenção (e muito bem) ao facto de existirem injustiças de sexo e género no mercado laboral (que, por exemplo, prejudicam as mulheres por serem mães), e mencionas também (muito bem) a violência obstétrica (problema gravíssimo e pouco ou nada falado). Sabias que um dos pilares do Feminismo é mesmo essa luta contra as desigualdades no mercado de trabalho…? E que a violência obstétrica é, também, um tema de extrema importância para o movimento Feminista…?

Falas, também, da falta de vozes femininas no espaço público (inclusive, na paisagem política), mas também sabes que és a única mulher na bancada do partido de AV… certo?. É um facto que o partido que representas não se preocupa muito com as questões de sexo e género, muito menos com as desigualdades abismais, mas há que ser auto-crítico(a).

Por fim afirmas, ainda nesta entrevista, que “fazia falta mais vozes femininas no espaço publico para defender uma outra forma de defender a mulher, numa perspetiva mais conservadora, que até então não tinham tanto espaço público”. Certo, mas, mais uma vez, explico: o Feminismo luta pela Mulher: seja conservadora e tradicional, seja inovadora e progressista; apesar de existirem várias variantes do Feminismo, O Feminismo não é excludente. O Feminismo apoia a mulher que não quer casar, que não quer ter filhos, que não quer ser dona de casa e que não quer servir um homem, da mesma forma que apoia a mulher que o decide fazer… é uma questão de criar opções, independentemente das que forem, não de as limitar.

Por isto, e por muito mais, peço-te que não mistures movimentos sociais importantes com as tuas ambições políticas pessoais, porque independentemente de quem representas, és, a partir de agora, uma mulher com voz política que vai chegar a muitas pessoas, e isso vem com grandes responsabilidades. Apesar disto, não sou ingénuo e sei que muitos políticos e políticas moldam as suas narrativas de acordo com os partidos, regimes, ou ideologias que defendem, mas Rita, não te podes esquecer que, antes de seres política, és Mulher.

E, como acho que precisas (todos nós precisamos, na verdade), deixo-te alguma bibliografia indispensável e valiosa, escrita por autoras pioneiras e vozes fulcrais no que diz respeito Ao Feminismo:

— “Teoria Feminista: da margem ao centro” de bell books;
— “Feminism is for everybody” de bell hooks;
— “Não serei eu mulher? As mulheres negras e o Feminismo” de bell hooks;
— “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir;
— “Problemas de Género” de Judith Butler;
— “Bad Feminist” de Roxane Gay;
— “We should all be Feminists” de Chimamanda Ngozi Adichie;
— “As feministas também usam soutien” de vários autores e autoras (a ver);
— “Everyday sexism” de Laura Bates;
— “Mulheres, Raça, Classe” de Angela Davis.

Aconselho também, vivamente, o livro que resultou de uma tese de Doutoramento, intitulado “Feminismos: percursos e desafios (1947-2007)” da Drª Manuela Tavares.

Acredito que, de acordo com a tua entrevista, ganharás muito mais em ser Feminista do que “antifeminista”.

 

Diogo Ferreira

 

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