Paternidade: Rúben Castro e Luar estão bem
Começamos por dar os parabéns a Rúben Castro pela experiência na paternidade.
*O dezanove também errou. Correcção: Pol Galofre foi o primeiro activista transmasculino na Catalunha a assumir que ia ser pai. É um dos fundadores da Guerrilha Travolaka. Esta história está documentada no livro "TransIberic Love" de Raquel Freire.
Várias notícias na imprensa dão conta que Rubén Castro é o primeiro* homem transgénero a “dar à luz” em Espanha. Luar é o nome da primeira filha do madrileno de 27 anos. "Luar chegou", anunciou Ruben na sua conta de Instagram. Ser pai era um "sonho". Um sonho a que assistiu durante nove meses com o crescimento da barriga com a sua bebé lá dentro. Luar nasceu bem e saudável a 1 de Maio. O pai e o bebé encontram-se bem.
Ser uma pessoa trans, é acima de tudo viver e existir fora da reta binária que a sociedade instituiu. Entre os polos, existe uma variedade de identidades que, fora deste binarismo, se encontram esquecidas e não reconhecidas.
Transitar no género não implica somente uma abordagem médica, nem tão pouco uma resposta passiva por parte da pessoa trans. Pese embora existirem alguns países que, malogradamente, exigem terapias de conversão, diagnósticos psiquiátricos, esterilizações forçadas e/ou procedimentos hormonais e cirúrgicos para o reconhecimento legal das pessoas trans, não podemos esquecer que transversalmente, a saúde trans inscreve-se num quadro médico e legal heteronormativo e cisgenerativo, não deixando muita margem para as pessoas que habitam fora dos extremos desta reta binária.
A saber: os homens trans com útero, sem útero, com peito, sem peito, com hormonas ou sem hormonas, masculinizados ou não, são válidos pois a sua autodeterminação e a sua identificação como tal são o único requisito que importa... e o resto são conversas de esplanada, como dizia o outro...
Assim, regogizamo-nos a assistir aos avanços sociais e legais no reconhecimentos destas pessoas que, acima de tudo, sabem quem são e que também têm espaço para expressarem quem são. Os direitos humanos são universais, a autodeterminação é uma realidade e acorde-se...a masculinidade hegemónica é um constructo social bem presente e tóxico acrescento eu, que começa a dar sinais de fissuras e de instabilidade graças ao trabalho e coragem incansáveis destas pessoas, dos activistas e de toda a comunidade de aliados que reconhece, luta e exige igualdade para todos os seres humanos.
Vânia Cavacas Pires, ally por vocação, defensora por missão