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Virginie Despentes, a enfant terrible

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Virginie Despentes nasceu em França a 13 de junho de 1969, no seio de uma família de classe trabalhadora. Durante a adolescência, identificava-se com a subcultura punk rock e, devido ao seu comportamento considerado desviante, foi internada à força pelos pais num hospital psiquiátrico aos 15 anos.

Acerca deste episódio, Virginie afirma ter a certeza de que nunca teria sido internada se tivesse nascido rapaz. Deixou a casa dos pais e abandonou os estudos aos 17 anos. Enquanto pedia boleia, foi violada, juntamente com uma amiga, por três homens. Em Lyon, onde foi viver, desempenhou várias profissões: empregada doméstica, trabalhadora sexual, funcionária de uma loja de discos, jornalista freelancer de música rock e crítica de filmes pornográficos. Aos 23 anos, escreveu o seu primeiro livro, “Baise-moi” (“fode-me”), no qual narra a história de duas mulheres que, em resposta à opressão que sofrem, cometem uma série de actos carregados de violência física e sexual. O livro chocou a cena literária francesa; como autora, Virginie continuava a ter um comportamento considerado desviante para uma mulher. Apesar da crítica negativa ao seu primeiro livro, Virginie afirmou-se como autora de renome, tendo sido galardoada com vários prémios nas suas obras subsequentes. Os seus livros são um retrato cativante da sociedade urbana das últimas décadas. Nestes, vemos várias personagens e temáticas que refletem o universo da sua juventude. Por exemplo, no manifesto feminista "Teoria King Kong", podemos observar a sua perspectiva pessoal sobre a violação. Na trilogia “Vernon Subutex”, este toque pessoal está presente em personagens ligadas ao rock e à pornografia. As personagens criadas por Virginie, bastante representativas da diversidade individual, são quase todas consideradas moralmente desviantes. Por exemplo, existem mulheres que não se identificam com a maternidade, homens e mulheres trans, lésbicas, toxicodependentes, sem-abrigo, mulheres que vivem a sua sexualidade sem culpa. Recomendo a leitura da sua obra não só pela representatividade de vivências não normativas, mas também por considerar  Virginie uma autora singular. A franqueza e o humor cru das suas palavras provocam uma sensação de estremecimento que nos mantém cativados a cada página.

O seu último livro, "Caro Idiota," centra-se no recente escândalo MeToo, foi lançado em Portugal este ano e já se encontra na minha lista de próximas leituras. Para além de ser uma autora excepcional, Virginie tem também obra feita como cineasta e crítica feminista. É, sem dúvida, uma mulher admirável, que em vez de ceder às críticas que sempre enfrentou, viveu a vida de acordo com a sua vontade. Sem rodeios, desafiou e continua a desafiar expectativas sobre o comportamento feminino, assumindo um estilo que tradicionalmente é apenas permitido aos homens. Actualmente, vive em Paris, após ter passado uma temporada em Espanha, com a sua, na altura, companheira, hoje Paul B. Preciado.

 

Daniela Alves Ferreira