A Diplomacia do Engano: As Falhas da Embaixada de Israel em Lisboa
Existe um velho ditado que diz que a política cria parcerias estranhas, mas seria difícil imaginar uma união mais estranha do que a da Embaixada de Israel em Lisboa e o 'Finalmente', um icónico bar gay local.
Recentemente, num movimento surpreendente e algo paradoxal, a embaixada de Israel anunciou um evento neste local para celebrar a Parada do Orgulho de Telavive. Esta é uma acção única, nunca antes ouvida por qualquer embaixada estrangeira em Portugal ou em qualquer outro lugar do mundo. Mas a reacção a esta decisão foi rápida e condenatória.
Vamos contextualizar. Israel, apesar de ter centros culturais vibrantes como Telavive, está longe de ser um farol de direitos humanos. O seu governo actual é abertamente anti-LGBT+, não existindo qualquer forma de igualdade no casamento. De forma perturbadora, ministros de alto escalão demonstraram hostilidade aberta à comunidade LGBT+, com casos de marchas de animais realizadas em frente às paradas do orgulho, equiparando indivíduos LGBT+ a bestas.
Igualmente preocupante, um influente vice-ministro detém poder sobre os materiais de aprendizagem, assegurando uma ausência notável de tópicos LGBT+ nos currículos educacionais. Esta negação da educação básica sobre a comunidade LGBT+ é uma forma flagrante de apagamento, de ignorância por defeito.
Todas estas práticas discriminatórias ocorrem contra o pano de fundo da prolongada ocupação de 57 anos da Cisjordânia, uma grave violação dos direitos humanos que continua por abordar e resolver.
Dado este contexto, não é surpresa que à Embaixada de Israel tenha sido recusada a participação na Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa. Mas em vez de reavaliar a sua abordagem e políticas, a embaixada decidiu organizar o seu próprio evento, resultando numa forte reacção da comunidade LGBT+ portuguesa. Esta decisão levou a cartas abertas de condenação, acusações de 'pinkwashing' e protestos organizados. A indignação é palpável e, dada a situação, totalmente justificada.
Tudo isto poderia ter sido evitado se a Embaixada de Israel tivesse abordado a situação com humildade e genuína introspecção, em vez de uma tentativa mal julgada de exibir uma aparência de aceitação. É como se colocasse uma máscara de tolerância enquanto a realidade é bastante diferente. Este show superficial de solidariedade é um des-serviço para as lutas da comunidade LGBT+, tanto em Israel como em todo o mundo.
De facto, quando membros da comunidade LGBT+ israelita contactaram a embaixada para um diálogo aberto, destacando a natureza contraproducente deste evento, foram sumariamente bloqueados. Este acto apenas reforça a imagem de uma instituição diplomática mais interessada em relações públicas do que em mudanças reais e significativas.
As acções da Embaixada de Israel reflectem uma diplomacia do engano, uma tentativa contraproducente de esconder realidades perturbadoras com gestos de inclusividade. Ao assistir à reacção em Lisboa, fica claro que tais tácticas são transparentes e ineficazes. Em vez disso, o governo israelita deve concentrar as suas energias em fomentar uma sociedade de verdadeira tolerância, começando com uma reavaliação séria das suas políticas internas.