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A visibilidade lésbica numa sociedade patriarcal

Visibilidade Lésbica

A sociedade patriarcal é uma sociedade que heterossexualiza homens e mulheres e que invisibiliza todas as outras possibilidades de relacionamentos afectivo-sexuais.

No caso das relações entre mulheres, o seu  silenciamento acontece por dois factores: por serem mulheres, numa sociedade que as submete aos homens; por serem lésbicas, não desempenharem o papel  de mulher ditado pelo patriarcado. 

Ao não se relacionar afectivamente e sexualmente com com um homem, ao não cuidar dos seus filhos, dos seus pais, ao não se submeter à vontade masculina, a lésbica põe em causa o patriarcado e também põe em causa quer a ideia da naturalização da heterossexualidade, quer o lugar de submissão da mulher perante o homem. Convém, assim, ao status quo, que a lésbica seja anulada socialmente, que seja invisível, para que as outras mulheres não consigam ver o facto de ser possível uma alternativa à vivência heterossexual.
Como resultado do  duplo silenciamento, a mulher lésbica quase que não possui existência social.
Veja-se este exemplo: Na área da saúde sexual podemos dar conta de que a lésbica é silenciada por ser mulher e também por ser uma mulher não heterossexual. Como mulher o seu prazer é secundarizado, em relação aos homens. As mulheres sempre tiveram e ainda têm muito problemas em obter prazer sexual. O órgão sexual feminino é essencialmente estudado no que concerne ao sistema reprodutor, o clitóris e a vulva têm sido amplamente ignorados. Isto acontece exactamente por, na sociedade patriarcal, a função reprodutiva ser o aspecto mais valorizado na mulher. Como o prazer sexual da mulher não está ligado à sua capacidade  reprodutiva é ignorado. Como mulher não heterossexual, a saúde sexual da lésbica não só é secundarizada em relação aos homens, como também o é em relação às mulheres heterossexuais. Por exemplo, as consultas de ginecologia são sempre voltadas para as práticas sexuais heterossexuais. Os médicos revelam um grande desconhecimento sobre práticas sexuais além do coito, e, consequentemente, das doenças sexualmente transmissíveis que fujam dessa prática.
O silenciamento da mulher lésbica funciona como um pacto social, mas esse pacto não é obrigatoriamente vitalício. 

O silenciamento da mulher lésbica funciona como um pacto social, mas esse pacto não é obrigatoriamente vitalício.

Podemos contribuir para o desfazer, com a nossa postura visível. Quando digo à ginecologista que não uso métodos contraceptivos, pois só me relaciono sexualmente com mulheres, estou a exigir que a consulta seja ajustada às minhas práticas sexuais. Estou também a dizer que a sexualidade feminina não se resume ao coito, que existem muitas outras práticas prazerosas para as mulheres. Essas práticas devem ser tidas em conta em consulta, pois têm impacto na saúde sexual.
A contribuição para uma postura visível pode ser feita diariamente, junto dos amigos, da família, no trabalho ou no espaço público. Ao dar a mão à minha companheira na rua, estou a exprimir o meu afecto por ela e a fortalecer os nossos laços,  mas estou também a mostrar a quem passa que tenho orgulho em ser uma mulher lésbica. Estou a dizer que as mulheres lésbicas existem, têm relacionamentos afectivo-sexuais. Aqueles dedos entrelaçados mostram a quem passa que existe a possibilidade de vivências relacionais não normativas.
Ser lésbica assumida ultrapassa a dimensão individual, é também um acto político.

Ser lésbica assumida ultrapassa a dimensão individual, é também um acto político.

Com a nossa postura visível estamos a contribuir para a nossa saúde física e mental e também a combater a heterossexualidade compulsória, produto do patriarcado.

Daniela Alves Ferreira