Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Dezanove
A Saber

Em Portugal e no Mundo

A Fazer

Boas ideias para dentro e fora de casa

A Cuidar

As melhores dicas para uma vida ‘cool’ e saudável

A Ver

As imagens e os vídeos do momento

Praia 19

Nem na mata se encontram histórias assim

"A Campânula de Vidro" de Sylvia Plath 

 campânula de vidro

The Bell Jar ou, na versão portuguesa, "A Campânula de Vidro", editado pela primeira  vez em 1963, em Inglaterra, é o único, ainda que polémico, romance de Sylvia Plath.  Assinado com o pseudónimo de Victoria Lucas, este romance mostra um estilo único de  expressão literária pela combinação ficcional e autobiográfica dos episódios e  personagens narradas.

Em torno da crise psicológica da narradora encontramos os  sintomas conservadores e patriarcais experimentados por Plath na sociedade americana dos anos 1950. Uma sociedade que ditava o destino feminino ao papel doméstico, o de  mãe e de esposa, da submissão sexual à volúpia masculina. Este retrato mostraria ser  decisório para o colapso mental quer de Plath como da protagonista do romance. 

A protagonista, Esther Greenwood, é uma jovem estudante americana que durante o seu  estágio numa revista feminina em Nova Iorque, “Ladies Day Magazine”, experimenta na  vida Nova Iorquina o stress e desilusão de um estilo de vida há muito idealizado. Embora  rodeada da companhia das suas amigas e colegas de redação, das soirées luxuriantes,  dos encontros e tentações masculinas, percebemos a imensa solidão que rodeava Esther, preferindo recolher-se ao isolamento da sua leitura e criação poética às  provocações da vida social. 

É no seu regresso a casa, em New England, que a miséria psicológica de Esther se  adensa. Tomando conta do seu corpo, da sua auto-confiança, Esther deixa de conseguir  dormir, ler, escrever, por dias a fio. Incentivada pela mãe a tratamentos psiquiátricos,  entre os quais o recurso à terapia eletroconculsiva, encontramos a personagem perdida  em pensamentos autodestrutivos consecutivos, decidindo por termo à sua vida. O  episódio em que Esther é encontrada esvaecida nos calabouços da sua casa, num limbo  entre a vida e a morte, numa minúscula fenda de terra sem luz, é sem dúvida sinistra, arrepiante, aterradora. Aguçando ainda mais o desfolhar da leitura para o desfecho da  estória. 

Esta obra embora não sendo recomendada a leitores que estejam a passar por um  estado psicológico e emocional mais debilitado, pela dureza do tema a que se dedica,  mostra-nos a importância em tornar visíveis as diferentes questões relacionadas com a saúde mental. Das necessidades específicas de quem sofre o estigma, a exclusão ou  discriminação social com base na sua identidade e/ou expressão de género, orientação  sexual, características sexuais, entre outras. Ainda que não seja evidente a homossexualidade de Eshter Greenwood, são várias as dificuldades que esta enfrenta  numa sociedade altamente patriarcal, misógina, materialista e conservadora, tendo com  isto chegado a um esgotamento mental. 

Esta obra mostra-nos a necessidade transgressora das normas e expectativas sociais  que prescrevem a forma como devemos ser, parecer ou nos comportar. As expectativas  colocadas a Esther, embora cinco décadas decorridas da publicação do romance,  continuam actuais. A feminilidade desejável, apesar dos significativos avanços em matéria  de igualdade de género, continua a ser heterossexual, reprodutiva e doméstica. 

As pessoas LGBTQI+, sendo expostas a ambientes sociais discriminatórios, onde o  preconceito, as agressões físicas, verbais e psicológicas tendem ser normalizados,  colocam-nas numa posição especial de vulnerabilidade e risco de saúde mental, de  depressão, ansiedade, e suicídio. Estudos indicam que os jovens LGBTQI+ possuem  taxas mais significativas de depressão do que os jovens heterossexuais. Assim como as  tentativas de suicídio mostram ser maiores entre as pessoas LGBTQI+ do que a  população em geral. 

Precisamos de combater o estigma, olhar para as necessidades e especificidades destas  pessoas e resolver o “papão” da saúde mental. Este livro é uma lição de subversão do  estigma, das formas desiguais de poder, da emancipação sexual e dos códigos  normativos de género. É também, um apelo ao reconhecimento da saúde mental  enquanto assunto central da vida social que não devemos ignorar. 

 

Editor: Relógio D'Água 

Idioma: Português 

Dimensões: 150 x 232 x 17 mm 

Páginas: 248 

Classificação Temática: Literatura; Romance; Ficção 

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.