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Eleições em Espanha: Sanchez resiste com resultado inesperado e PP fica aquém das sondagens. Extrema-direita mantém-se, para já, longe do governo

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A noite começou com o PP a cantar vitória após serem divulgadas as primeiras sondagens e se perspectivar uma possível maioria absoluta para o bloco de direita. Mas a contagem dos votos não veio confirmar essas expectativas e a comunidade LGBTI+ espanhola pôde dormir descansada: não acordariam no dia seguinte com Santiago Abascal, do Vox, como vice-presidente do governo.

 

 
A sondagem revelada pela RTVE às 20 horas projectava para PP e Vox um resultado que se traduziria em suficientes deputados para garantir a maioria absoluta (176 lugares) no Congresso dos Deputados. Com o apuramento dos votos ao longo das horas seguintes, esse número acabou por ficar-se em 169, longe do pretendido por Alberto Núnez Feijóo, líder dos populares. Ao contrário do bloco de esquerda, o PSOE e o novo Sumar (que ocupa o lugar anteriormente detido pelo Podemos), não se vislumbra a possibilidade de acordos com os pequenos partidos regionalistas – que reunem um total de 28 deputados – já que o Vox rejeita acordos com os independentistas catalães (ERC e Junts) e vascos (EH Bildu e PNV), com respectivamente 14 e 11 lugares. Caem assim por terra as ambições eleitorais de Feijóo, que, no entanto, já afirmou que se apresentará perante o rei para formar governo, uma iniciativa que será previsivelmente bloqueada no parlamento por todas as forças políticos, à excepção do Vox.
 
O partido de extrema-direita é, aliás, o grande derrotado da noite. Perde 19 deputados, um terço dos lugares conquistados nas últimas eleições. Ainda assim, mantém-se como terceira força política com 33 deputados, apenas mais dois que o Sumar, encabeçado por Yolanda Diaz. Os socialistas de Pedro Sanchez, a que todas as sondagens vaticinavam uma derrota clamorosa, surpreendem ao resistirem e até adicionaram mais dois lugares face a 2019. PSOE e Sumar conseguem juntos 153 deputados, o que, obviamente, está ainda longe da maioria necessária para formar governo. 
 

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Começa agora o grande desafio de Sanchez, talvez um ainda maior que o superado na noite de ontem: garantir que os independentistas não bloqueiam a sua investidura no parlamento como presidente do governo. E isso, claro, significa negociar. Mas se para os catalães do Junts, o partido de Carles Puigdemont (exilado em Bruxelas e perseguido pela justiça espanhola desde o referendo à independência da Catalunha), tal acordo implicar a amnistia dos acusados de sedição pelos tribunais espanhóis, ou mesmo a realização de um novo referendo à autodeterminação, poder-se-á chegar a uma situação de bloqueio. Se isso acontecer, os espanhóis serão novamente chamados às urnas, prevendo os analistas que essa votação possa acontecer já no Outono.
 
Recordemo-nos que foi na sequência da declaração de independência da Catalunha de 2017 que o Vox teve o seu grande balão de oxigénio, permitindo-lhe a conquista de 52 lugares nas eleições de há quatro anos. O ataque às autonomias catalã e vasca tem sido, aliás, a principal bandeira política da extrema-direita. Outras cruzadas movidas pelo partido de Abascal centram-se na luta feminista e nos direitos LGBTI+. Desde as últimas eleições regionais e locais de 28 de Maio (cujos maus resultados para os socialistas levaram Sanchez a antecipar a votação geral), PP e Vox têm fechado acordos de governação em vários municípios e comunidades autónomas. Em várias, foram imediatamente anunciadas medidas que derrogam conquistas alcançadas nestes dois domínios. Ao longo das últimas semanas, a comunicação social foi trazendo ao conhecimento do público actos de censura em espectáculos e iniciativas culturais contrários à ideologia perfilhada pelo Vox, que incluem a remoção de bandeiras arco-íris e outros símbolos do Orgulho. 
 
Na última grande manifestação LGBTI+ no país antes destas eleições, o Pride de Barcelona, realizado a 14 e 15 de Julho, de todos os colectivos e associações que participaram na marcha, dos artistas que subiram aos palcos para as celebrações, e da própria organização veio um único mas insistente apelo: todes a votar contra o retrocesso e a perda de direitos. Parece ter surtido efeito: para já – e sublinhe-se o "para já" – a extrema-direita mantém-se fora do governo espanhol.
 
Pedro Leitão 
 
Fotos: Manifestação Estatal do Orgulho LGTBI+ realizada em Junho com o slogan "Pelos Nossos Direitos. Pelas Nossas Vidas. Com Orgulho!" Na foto é possível ver Uge Sangil, presidente da FELGTB; Yolanda Diaz do Sumar e Carla Antonelli, activista trans espanhola.