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Após o jogo entre Portugal e os EUA, no Mundial Feminino de Futebol, Dolores Silva afirmou que a equipa entrou em campo por todas as mulheres em Portugal e só as mulheres percebem, genuinamente, o que esta frase significa.

Dolores Silva é uma das muitas atletas que se assumem como lésbicas e isso poderia não ter qualquer significado, se já vivêssemos num mundo sem qualquer preconceito. Em diversos relatos que escutámos ao longo deste mundial, falou-se nas diversas selecções femininas que existiram e nos sacrifícios que fizeram para treinar, tendo, por vezes, de percorrer centenas de quilómetros para o poderem fazer. Não poderíamos referir os nomes de todas essas mulheres portuguesas, as mil que eram federadas há duas décadas atrás. Se havia pessoas lésbicas entre elas? Com certeza que sim, mulheres que já estavam habituadas a partir pedra e a lutar contra o preconceito existente.

Por sua vez, a realidade norte-americana é completamente diferente, pois o futebol foi sempre considerado um desporto «menor», um jogo «de meninas», por esse motivo, era perfeitamente normal ver raparigas com uma bola de futebol debaixo do braço. Na Europa, o futebol era para rapazes e as raparigas deveriam focar-se em desportos como ginástica artística ou ballet, nomeadamente. Por outro lado, países como a Noruega ou a Suécia começaram a apostar na vertente feminina do «desporto-rei», ao passo que Portugal ainda dava passos muito tímidos nessa direção. Assumia-se que as raparigas não se interessavam por futebol, porém, não existia qualquer motivação ou incentivo (no Natal, era costume as meninas receberem bonecas e os meninos bolas de futebol).

A selecção portuguesa não conseguiu passar a fase de grupos do mundial de 2023, contudo, bateram-se muito bem, colhendo imensos elogios, pois defrontaram as campeãs e vice-campeãs do mundo. Ana Capeta, Jéssica Silva Kika Nazareth foram unânimes ao sublinhar o trabalho das mulheres que as antecederam, pedindo mais apoio: «Não se esqueçam de nós. Continuem a dar-nos a mão», pediu Jéssica, em lágrimas.

Recordemos o trajecto difícil de tantas jovens portuguesas, que se levantaram e teceram esforços para poderem jogar futebol. As meninas de hoje tiveram a oportunidade de ver as nossas atletas a jogar o seu primeiro mundial, em directo, na RTP 1 e isso terá um impacto muito positivo no número de atletas inscritas para jogar futebol.  Sublinhamos o esforço conjunto de TODAS as mulheres que mostraram a sua raça e força, numa sociedade que não as apoiava, independentemente da sua orientação sexual. Só podemos sentir orgulho na nossa selecção feminina de futebol e aguardar por Setembro, mês em que irão disputar a Liga das Nações.

 

Foto: Instagram PTFutebolFeminino

 

Márcia Lima Soares, Doutoranda em Estudos Medievais, autora do livro “A Ervilha Congelada”, professora, escritora e activista. @marcialimasoares_