O primeiro “sim, aceito” lésbico do mundo
“Aceita esta mulher como sua mulher?” A resposta foi “sim, aceito” e a foto do casamento correu o mundo. Anne Marie Thus e Helène Faasen casaram-se ao som das doze badaladas do dia 1 de Abril de 2001. Job Cohen, o presidente da Câmara de Amesterdão, oficializou a relação numa cerimónia onde entre os presentes estavam até ministros. A festa teve direito a transmissão na televisão nacional holandesa. Foi há dez anos e marcou uma etapa na conquista da igualdade de direitos das pessoas LGBT.
O dezanove encontrou Anne Marie Thus à margem da conferência Famílias Arco Íris, no início do mês, e conversou com esta mãe de família que agora reside em Maastricht com a mulher Hélene e os filhos Nathan e Myrthle.
dezanove: O que tem a dizer depois de dez anos do primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo de que é uma das protagonistas?
Anne Marie Thus: Amo profundamente a minha mulher, porque ela é tão, mas tão especial. Casei com quem amo e isso para mim é normal, para outras pessoas é que pode não ser.
Como foi o dia do seu casamento?
Estava eu e a minha mulher e mais três casais e casamos na câmara municipal. Foi um dia muito feliz. Infelizmente um dos membros de um casal faleceu e ficamos muito tristes porque temos passado os aniversários juntos.
Passados dez anos que tipo de discriminação ainda sente na Holanda?
Sinto que ainda há discriminação social e legal, porque não temos os mesmos direitos, nomeadamente no que respeita ao “privilege caring”. Por exemplo, quando uma criança nasce, se um casal é heterossexual ambos os membros do casal têm os mesmos direitos. Num casal de pessoas do mesmo sexo, o bebé é filho de uma das pessoas e depois tem de ser adoptado pelo outro membro do casal. Quando a adopção não ocorre, se a mãe biológica de uma criança morre, esta pode ser retirada à outra mãe e isso é horrível para uma criança.
Outra situação, o governo holandês não está a facilitar a adopção a casais masculinos. É preciso ser muito persistente.
O que é importante fazer agora?
É importante que as pessoas vejam as famílias que somos: que nos levantamos todas as manhãs, fazemos o pequeno-almoço, levamos os filhos à escola, etc. A única diferença é que somos gays e lésbicas. É importante que vejam que existimos.
E na escola como foi a reacção com os vossos filhos?
Acabam sempre por lhes perguntar onde está o pai e eles respondem que têm duas mães. Mas isso não é um problema. De todo. A seguir eles simplesmente vão brincar.
Como recebeu a notícia da aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal?
Foi o meu filho Nathan de 11 anos que nos veio contar a notícia. Ele estava muito orgulhoso. Naturalmente vejo com muita satisfação que mais países estejam a abrir as possibilidades para que as pessoas possam escolher como a sua vida pode ser.
Que mensagem quer deixar para os portugueses?
As famílias de casais do mesmo sexo existem. E as crianças também existem nestas famílias. É importante que estas crianças sejam protegidas legalmente.
Paulo Monteiro