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“Vidas trans em segurança, até mesmo na infância”: pelo segundo ano, a Marcha da Visibilidade Trans percorreu as ruas do Porto

Marcha Trans

Apesar do mau tempo, mais de cem pessoas exigiram «segurança, bem-estar e saúde, para todas as pessoas trans, até mesmo na infância!», na véspera do dia em que, pela primeira vez no país, se assinala a visibilidade das pessoas trans. O ponto de encontro foi marcado para o Jardim Paulo Vallada, com o percurso a terminar na praça D. João I.

 

A chuva intensa obrigou à supressão do convívio com piquenique e da oficina de cartazes que estavam agendados para as horas anteriores à concentração no espaço verde da Avenida Fernão de Magalhães, bem próximo do local onde Gisberta Salce foi assassinada há 18 anos. Ainda assim, à convocatória lançada pela Coligação para a Visibilidade Trans do Porto, que integra os colectivos e associações A Traça, TRANSformar Portugal, rede ex aequo e Associação Anémona, responderam mais de uma centena de pessoas.

A menos de um mês das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, o manifesto da 2ª Marsha da Visibilidade Trans do Porto teve por lema “Vidas trans em segurança, até mesmo na infância”. Segurança é a palavra de força numa altura em que a extrema-direita engrossa fileiras e ocupa o espaço mediático com o logro da “ideologia de género” e com um insistente discurso transfóbico e queerfóbico. Também é de recente memória o veto do Presidente da República à lei do nome neutro e a várias medidas que visavam operacionalizar a autodeterminação da identidade e expressão de género nas escolas.

Para além dos grupos que integravam a organização, estiveram presentes vários colectivos da cidade. Nesta edição formou-se ainda um “bloco pela Palestina”, com o propósito de denunciar a estratégia de pinkwashing seguida pelo governo de Israel, «que procura desviar a atenção das suas políticas opressivas contra o povo palestiniano, ao explorar, cinicamente, os direitos LGBTQIAP+ e projetar uma imagem progressista, enquanto oculta as políticas de ocupação e apartheid», como se lê no comunicado da organização. Foram muitas as bandeiras palestinianas que esvoaçaram entre manifestantes e cartazes.

A marcha partiu do Jardim Paulo Vallada, localizado próximo do local onde Gisberta foi assassinada em 2006, e não muito longe da rua que em breve levará o seu nome. Os marchantes desceram pela Avenida Fernão de Magalhães até ao Campo 24 de Agosto, tornando pelas ruas Fernandes Tomás e Sá da Bandeira até à praça D. João I, onde a grande bandeira listada de azul, rosa e branco foi estendida. À noite, organizou-se uma festa no Espaço Cultural Jubilant, que contou com vários DJ sets e drag show. Os donativos recolhidos nesse evento a reverterão para a recuperação da activista trans Keyla Brasil.

As fotos da marcha foram gentilmente cedidas pelo colectivo Porto, Inclusive. Transcrevemos abaixo o manifesto da marcha publicado na conta de Instagram da organização.

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Saímos à rua porque o nosso Presidente da República, informado por uma falsa "ideologia de género" propagada por grupos antidemocráticos, e mobilizado por uma agenda política conservadora e bafienta, impediu o progresso e a segurança de todas as pessoas trans, incluindo crianças e jovens. Exigimos segurança, bem-estar e saúde, para todas as pessoas trans, até mesmo na infância!

Saímos à rua porque o direito à autodeterminação de género não está garantido para todas as pessoas, devido ao critério violento de exclusão de pessoas migrantes nesta lei. Saímos à rua porque se não encaixarmos nas caixas binárias do cis-tema o nosso acesso a este direito ainda não é pleno. Saímos à rua porque sabemos a violência que nosses corpes enfrentam quando ocupam o espaço público. Saímos à rua porque sabemos que a discriminação racial torna estes mesmes corpes ainda mais vulneráveis a essa violência. Saímos à rua para exigir justiça para toda a população trans, incluindo de comunidades marginalizadas. Saímos à rua por nosses irmanes que não podem marchar connosco.

Saímos à rua para mostrar que existimos, estamos aqui e resistimos à crescente ameaça dos movimentos de extrema-direita que põem em causa os nossos direitos, a nossa dignidade, as nossas vidas. No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de abril, torna-se urgente relembrar os valores e os princípios que nos trouxeram cá. Vidas Trans em Segurança! Fascismo nunca mais!

 

Pedro Leitão