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Audre Lorde - Ser mulher, negra e lésbica

 Audre Lorde

Audre Lorde (1934-1992) nasceu em Nova Iorque, filha de pais imigrantes oriundos da região do Caribe. Passou a infância em Harlem, onde experienciou o racismo ao ponto de, na rua, pessoas de pele branca lhe cuspirem por ter a pele escura. Em casa, o ambiente familiar era de grande disciplina, muitas vezes exercida através de castigos físicos. As dificuldades que a cor de pele, o peso acima do padrão e a miopia grave lhe traziam não a impediram de ser uma das melhores alunas da turma na escola. À medida que a sua irreverência foi crescendo, deixou de conseguir coabitar com a disciplina imposta pelos pais. Aos 17 anos, depois de concluir o ensino secundário, decidiu sair de casa e foi viver para Stamford. Partilhou casa e teve vários trabalhos precários para conseguir pagar as despesas, que incluíam os estudos que frequentava paralelamente na universidade.

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Ainda jovem, envolveu-se em movimentos progressistas, mas mesmo aí não se sentia incluída, pois estes não abrangiam a luta anti-racista e homofóbica. Lorde cedo ganhou consciência de que ser mulher, negra, lésbica e pobre eram dimensões que se cruzavam e potenciavam as opressões que sofria. Considerava, portanto, imprescindível que a luta por uma sociedade mais justa tivesse uma abordagem interseccional.

Lorde teve relacionamentos afectivo-sexuais com homens e mulheres, mas terão sido as mulheres que mais a marcaram. Na sua autobiografia "Zami: Uma Nova Grafia do Meu Nome", presta homenagem a todas as mulheres que foram importantes na sua vida. Desde a menina com quem brincou por apenas dez minutos em frente ao seu prédio, quando ainda era criança, até à parceira com quem na adolescência estabeleceu uma relação com uma terceira mulher. Foi presença assídua nos bares gays de Nova Iorque, onde relata ter experienciado um ambiente de sororidade entre mulheres lésbicas. Um ambiente que surgia como forma de reagir às dificuldades decorrentes da forte homofobia que predominava em 1950.

Apesar de se identificar como lésbica, Lorde casou-se em 1962 com Edward Rollins, homossexual assumido, com quem teve dois filhos. Tratava-se de um casamento pouco tradicional, onde haveria um acordo de não exclusividade afectivo-sexual. Também a educação dos filhos fugia à norma, pois eram evitadas diferenças de género entre o filho e a filha. Em 1970, divorciou-se do marido e passou a viver com Frances Clayton, professora de psicologia, que foi sua companheira quase vinte anos.

Ao longo da sua vida, foi bibliotecária, escritora, poetisa e professora. Tornou-se uma autora de grande influência nos Estados Unidos e na Europa. Fez parte de um movimento de feministas lésbicas que obrigaram o feminismo branco, heterossexual burguês, a refletir sobre a sua visão homogénea da mulher. Foi pioneira a trazer a questão da diferença para o centro do debate feminista, alertando para a falta de reflexão sobre o papel da diferença nas vidas das mulheres, nomeadamente no que diz respeito à raça, sexualidade, classe e idade.

Ainda hoje, as suas contribuições para uma abordagem feminista da interseccionalidade são levadas em conta.

A meu ver, foi uma mulher fascinante, pois em vez de se resignar às múltiplas opressões que sofria, usou essa sua experiência como força motriz da sua luta.

“Dentro da comunidade lésbica, eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra, eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay porque eu e centenas de outras mulheres Negras somos partes da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão Negra, porque centenas de lésbicas e homens gays são Negros. Não há hierarquias de opressão.” Lorde, A. (1981)

Infelizmente, Audre Lorde partiu cedo, aos 58 anos, depois de passar por dois cancros. Viveu os últimos seis anos da sua vida ao lado da socióloga e activista feminista Gloria Joseph em Saint Croix, uma ilha no Caribe, ilha de origem da sua mãe.

 

Daniela Alves Ferreira

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