Ir para a rua sendo queer é estar a escolher pôr em risco a nossa segurança em prol da nossa liberdade
Ir para a rua sendo queer é estar a escolher pôr em risco a nossa segurança em prol da nossa liberdade.
A minha identidade de género, o meu corpo e a minha orientação sexual não são debatíveis, não são questionáveis e muito menos censuráveis.
Quem acha que esta luta já não é necessária está claramente desatento à homofobia, transfobia e preconceitos que tiram vidas todos os dias pelo mundo inteiro. Questiono-me se será privilégio ou ignorância. Talvez seja um pouco dos dois.
Chega de culpar a religião. Deus não é homofóbico, tu é que és. E homofobia não é OPINIÃO. É crime. E enquanto passa imune, perdem-se vidas.
Em cada beijo, haverá sempre uma revolução. Quer queiram, quer não.
A bandeira nos ombros dos que caminharam a meu lado - uns mais excêntricos, outros mais recatados - mas todos pela mesma causa: Ser, traz consigo o peso de todos os ataques à liberdade, de todos os assédios, todos os maus tratos físicos e psicológicos. Traz consigo o peso da história. E apesar disto tudo, traz a cor, o amor, a empatia e o respeito.
Seguimos revoltados. Por nós e por todos aqueles que ainda sentem que têm de pedir desculpa por serem quem são. Por todos os que se recusam - e bem - a esperar pelo dia em que os outros os deixem ser felizes.
Lutemos. Lutemos contra aqueles que nos preferem calados do que vivos.
Lutemos. Lutemos contra aqueles que nos preferem calados do que vivos.
Lutemos contra o sistema que inviabiliza e violenta as pessoas queer. Pelo fim da descriminação e preconceito que matam. A nossa luta é todos os dias, desde o momento em que saímos de casa até ao momento em que voltamos. Com medo, mas saímos.
Lutemos pelo direito à autonomia e autodeterminação corporal. Contra a violência médica por desconhecimento.
A história oprimiu, perseguiu e matou quem fugia à norma. E hoje a história repete-se pelo mundo inteiro. Mas heterossexualidade não é o "normal", é só o comum.
A história oprimiu, perseguiu e matou quem fugia à norma. E hoje a história repete-se pelo mundo inteiro. Mas heterossexualidade não é o "normal", é só o comum.
O Género é uma construção social. Ponto final.
A homofobia mata. A transfobia mata. O preconceito mata. A noção conservadora e limitada mata. Andar de mão dada ainda mata.
Temos o dever de educar. Porque a desinformação é a ferramenta do medo e deve ser combatida, nas escolas, nos cafés, na rua, na mesa de jantar. Assim o farei.
Lutemos contra as leis e restrições que violam os direitos humanos e que têm de ser repudiadas, lutemos porque são necessários mais cuidados de saúde, mais acesso à educação nas escolas e universidades para que possamos existir.
Porque apesar de haverem direitos consagrados, não há medidas de segurança que nos protejam de usufruir dos mesmos. E sem segurança, nunca seremos totalmente livres.
A Amnistia Internacional disse que em Portugal, apesar de avanços, ainda existe discriminação por questões de género, mas não se trata só de Portugal. Trata-se do mundo inteiro, trata-se dos retrocessos legislativos em inúmeros países. Trata-se da repressão na Turquia. Trata-se da pena de morte em mais de onze países. Trata-se daqueles que continuam silenciados porque têm de escolher entre ser e viver. Não é justo.
Nunca foi sobre acabar com os direitos dos outros. Sempre foi sobre lutar pela liberdade e pelo amor.
Sem vergonhas. Sem culpas. Porque ninguém merece ser obrigado a viver uma vida pela metade.
Ninguém merece ser obrigado a viver uma vida pela metade.
Aqui continuarei. Mulher inteira.
Aqui continuarei, de pé e a relembrar aqueles que nunca chegaram a descobrir a cor da liberdade mas lutaram para que hoje possamos senti-la. Histéricos? Não. Históricos.
Calados nos querem. Revoltados nos terão. Porque iremos sempre preferir meter em risco a nossa segurança do que a nossa liberdade. Do armário para a rua. A resistência continua.
Joana Domingos, presente na 24ª Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa