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O Richarlison, o Irão, e os direitos de tudo e todos

Maria Kopke

Na segunda-feira jogaram, e venceram, os meus dois países. Luso-brasileiros em todo o mundo passaram por momentos de grande ansiedade, mas como eu não ligo muito a futebol, limitei-me a celebrar com um emoji sorridente quando alguém me notificou por mensagem os resultados. 

 
 
 
 
 
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Mas nem mesmo a pessoa mais desinteressada consegue ficar indiferente ao Mundial, porque no Mundial nunca está em jogo só futebol – e o deste ano que o diga. E eu, que já tenho fama de militante chata no Whatsapp da família, não fiquei nada indiferente ao adepto que invadiu o campo durante o jogo de Portugal contra o Uruguai, com uma bandeira LGBT nas mãos, uma mensagem de apoio à Ucrânia no peito e outra de apoio ao Irão nas costas. Achei lindo.

Não demorei muito até encontrar um comentário no Facebook que reflectia o que certamente vai na cabeça de muitas pessoas: “colocar essas causas todas misturadas no mesmo saco? Isso não é activismo, isso é querer chamar a atenção”.

Não respondi logo, porque tenho demasiada maturidade para discutir nos comentários do Facebook. É muito mais chique responder neste artigo. Não respondi logo também porque me perdi a pensar nas várias versões desse comentário que fui ouvindo desde que comecei a ser uma militante chata: “não podes resolver todos os problemas do mundo”; “nem tudo é para problematizar”; “pick your battles”. 

“Pick your battles” é de facto um conselho útil. O mundo é gigante e as injustiças são muitas, não dá mesmo para resolver tudo. Mas também é difícil, quando se sabe dessas injustiças, ignorá-las. Que fazer, então?

Já que o jogo de segunda-feira nos chamou a atenção para o Irão, olhemos para ele, e para a revolução que começou em Setembro e continua viva. Os protestos começaram com o assassinato de uma jovem curda pelas mãos da chamada “polícia moral”, e transformaram-se, primeiro, numa luta pelos direitos das mulheres. Hoje, é uma luta que engloba tudo e todos. 

A canção “Baraye” de Shervin Hajipour, que se tornou num hino da revolução, faz uma lista de tudo o que estes protestos defendem: homens e mulheres de todas as idades e de todos os contextos; os animais, o ambiente, a educação, a arte e a cultura, a economia… nada nem ninguém fica de fora. Hajipour enumera tudo isto e muito mais, mas no fim, conclui a sua lista com duas ideias muito simples: vida e liberdade. 

Se eu tivesse respondido àquele comentário no Facebook, teria respondido com esta canção. Teria dito que é bom termos um foco, mas que a batalha, no fundo, é apenas uma. 

O povo iraniano compreendeu isso e já está a travar essa batalha. O resto do mundo tem muito que aprender com esta revolução. O Brasil, por exemplo, está mais dividido que nunca e vai-se distraindo com as batalhas que trava consigo próprio. Faz uma pausa durante o mundial, que, segundo os brasileiros, é o único momento em que o país está unido. 

Pode ser que sim. Talvez não haja nada mais unificador do que debater se o Ronaldo tocou ou não na bola, ou fingir saber o que é a sequência de Fibonacci para explicar o golo do Richarlison. E quem sabe a união que surge daí não pode ser a união com que se luta pela Ucrânia, pela comunidade queer, pela democracia, pelas mulheres… resumindo: pela vida e pela liberdade?

 

Maria Kopke