Valentim de Barros, o primeiro bailarino português a internacionalizar-se
Valentim de Barros nasceu a 11 de Novembro de 1916 em Lisboa e foi tido desde cedo como um rapaz de uma beleza excepcional. Cresceu como o mais novo dos oito filhos de Ana da Encarnação e de Joaquim José de Barros e revelou desde cedo a sua paixão pela dança.
Ainda jovem fez teatro de revista e integrou uma companhia que viajava pela Europa. Foi o primeiro bailarino português a internacionalizar-se, mostrando um talento notável.
A sua carreira promissora levou-o até à Alemanha, onde teve uma curta mas reconhecida carreira. No entanto, no início de 1939 com a ascensão do regime nazista, viu-se repatriado para Portugal.
Aqui, enfrentou adversidades sob o olhar repressivo da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) e acabou por ser internado no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda por homossexualidade.
Após sucessivas altas e internamentos, em 1949 Valentim é submetido ao procedimento que hoje conhecemos como lobotomia. O objectivo da operação cerebral era alterar os seus comportamentos e a sua personalidade mas tudo o que conseguiram foi que perdesse algumas capacidades.
Com a revolução de Abril de 1975 casos como este puderam finalmente receber alta, mas Valentim já não tinha casa. Manteve-se no Miguel Bombarda até 3 de Fevereiro de 1986, e recebeu alta apenas no dia da sua morte. Tinha 69 anos e esteve quase 40 internado.
Ao longo deste período de internamento Valentim encontrou refúgio nas memórias que guardava do mundo exterior e na sua paixão pela arte. Mesmo limitado ao ambiente hospitalar Valentim pintava, lia, bordava e fazia teatro no interior do hospital. Dessa época da sua vida chegaram-nos poucos registos, mas a sua memória mantém-se como uma recordação sombria das injustiças cometidas por uma sociedade intolerante.
Anabela Risso
Foto: José Pontes