Ao observar a evolução do cinema queer na última década, é impossível ficar indiferente aos variados factores que contribuem para que tenhamos uma indústria mais inclusiva, hoje em dia. É cada vez mais frequente vermos um cinema de mulheres, de pessoas negras, trans, indígenas, um cinema reflexo de múltiplas realidades geográficas, de periferia, algo que nos obriga também a moldar o nosso olhar. É com este mote que o Queer Lisboa e Porto nos trazem uma visão queer, não polarizada - um olhar além-fronteiras - para as suas edições de 2023.
“Temos de descobrir por conta própria que o amor é uma força tão real quanto a gravidade, e que ser sustentados pelo amor todos os dias, a cada hora, a cada minuto, não é fantasioso – deve ser o nosso estado natural.” (p.192)
Ain’t I a Woman (1981) ou, se quisermos em português,Não serei eu Mulher? (2018), é um clássico obrigatório da teoria feminista e reflexão interseccional. Pelas mãos de bell hooks, feminista e activista norte-americana, é resgatado o famoso discurso de Sojourner Truth (1852) para nos mostrar a sua indignação sobre a histórica diferença das experiências de mulheres negras e brancas no que toca aos papéis e identidades femininas. Para isso, bell hooks, constrói uma reflexão exímia em torno do impacto que a escravatura e o sexismo tiveram no estatuto social das mulheres negras norte americanas na segunda metade do séc. XX.